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Escola Preparatória de Cadetes do Ar

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Encontro dos 45 anos

Mais uma vez
nos encontramos!
Agora para os
45 anos!
1960 - 2005


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Meus amigos,

Quero pedir licença para apresentar um breve epigrama para servir de suporte às minhas palavras. Conta o autor do Gênio do Cristianismo que certa vez três divindades resolveram descer do Olimpo e peregrinar pelo mundo. Eram elas a Glória, a Fortuna e a Amizade. Decidiram registrar o nome de quem lhes oferecesse acolhida. Muniu-se, então , a Glória de uma tabuinha de mármore; a Fortuna de uma tabuínha de cera; muniu-se a Amizade de um livro branco. Um dia chegaram em minha porta e tive oportunidade de oferecer o meu modesto abrigo às três divindades olímpicas. No dia seguinte, ao saírem, notei que a Glória não conseguira gravar o meu nome no duro e refratário mármore; a Fortuna havia gravado na tábua de cera, mas a cera fundiu e logo apagou-se. Somente a Amizade gravou o meu nome no seu livro branco com tinta indelével. Isto mostra o nada que me aprouve a glória, o pouco que me aprouve a Fortuna e o muito que me aprouve a amizade, perpetuando o meu nome no seu livro branco.
Não necessita sábios intérpretes para entender que o livro branco a que eu me refiro é representado pelo distinto grupo que compartilhou a vida no lar EPCar lá nos idos de 45 anos atrás. Quero simbolizar nesse livro branco o traço que nos agrega. Quão afortunados fomos! Nem mesmo, algum de nós suspeitava que estávamos naquele período participando de uma usina de amizade. Esta Escola, além de produzir o saber nos alunos, produz a unidade. A nobre unidade pela amizade. No tempo que aqui convivemos fomos transformados de um grupo de estranhos  numa formidável família. Definitivamente, família.

Muito se tem falado e tentado interpretar o porquê do fascínio de BQ. Qualquer um de nós pertenceu, ao longo da vida, a outros grupos e tudo indica que nada se compara  à união que aqui experimentamos. A amizade tem seus segredos. A amizade nasce e cresce em condições favoráveis de espaço e tempo. Imagino que a nossa Escola, aqui em Barbacena, entre montanhas e céu de anil, bem no centro do Brasil, combinada com os hormônios efervescentes da nossa adolescência, criaram o ambiente e o momento propícios para a criação dessa vinculação humana. Porém, muito mais do que entender ou explicar a origem de um bem, o que nos convém é o usufruto do mesmo.
Também fazemos muitas perguntas sobre a natureza da amizade. Desde a mais tenra infância sentimos orgulho em adotarmos amigos. Os poetas fazem uso abusivo do tema. Profissionais do relacionamento humano desenvolvem teses sobre a amizade. É intrigante, admitamos, esse dom tão importante que irmana os homens. É o requisito essencial da paz na terra. É um traço tão inerente e fascinante da criatura que de tão humano se faz divino. É nesse mistério da amizade  que, pessoalmente, quero admitir que reside a prova de que o homem foi realmente criado à imagem e semelhança de Deus. Porém, muito mais do que entender ou explicar a natureza de um bem, o que nos convém é o usufruto do mesmo.
Quero convidá-los agora  para uma experiência de imaginação. Seja focalizado o dia em que pela primeira vez nos concentramos no recinto desta Escola. Faz muito tempo. Faz 45 anos. Aqui viemos por dever. Chegamos numa madrugada fria e estávamos, no geral, ansiosos e meio assustados, perante o totalmente novo.
A seguir, contemplemos o dia de hoje, a presente concentração. Aqui viemos espontaneamente e por puro prazer. Hoje somos maduros, serenos e conhecemos melhor a vida.
Observem que estamos considerando dois pontos no tempo – duas datas -  e um ponto no espaço – aqui onde estamos, a nossa veneranda EPCAr. Há nada de especial nesse quadro, a não ser quando imaginamos que nesse decurso de tempo, cada um de nós passou por transformações substanciais. Foi nesse período longo e importante que nos construímos nos vários sentidos. Quanta coisa rica e fascinante existe no filme da vida de cada um,
durante esses longos anos, para ser aqui compartilhada.
É uma felicidade e um privilégio estarmos aqui, solidários na alegria.
Neste ponto já todos vamos percebendo e confirmando a resposta da pergunta: por que  estamos aqui? Viemos para confraternizar porque temos laços fraternos, laços de irmãos. Somos unidos pelo apreço e pela amizade que representa um patrimônio comum. Precioso patrimônio! Que muito se comunique, com palavras, com abraços e com sorrisos, nesta experiência intensa de conviver. Tudo o que eu desejo é que seja este encontro uma experiência de vida rica e marcante. Que o efeito de contentamento permaneça em cada um de nós, como o perfume de uma flor que junto plantamos, como os acordes de um hino que todos ajudaram a compor.
Antes de colocar o ponto final nas minhas palavras, eu gostaria de ressaltar que a etiqueta e o coração nos mandam agradecer toda vez que recebemos alguma coisa de graça. Assim eu quero ser sempre grato a quem, ao longo desses 45 anos, de alguma forma me dispensou apreço e consideração. Quero, especialmente, destacar,  reconhecer e agradecer a todos que contribuíram, de qualquer maneira, para a realização dos nossos encontros – deste e dos anteriores -, tendo em mente que um evento desse tipo representa um presente para todos e  para cada um de nós. Pessoalmente, devo confessar que muito devo à equipe da era Limão, de quem recebi o primeiro  convite para um encontro da turma. Foi aí que reconheci o grande benefício de retornar ao convívio dos amigos bequeanos. Foi então, que senti a possibilidade de restaurar a juventude nesses reencontros. Já não temo mais o tempo tirano a me impingir idade, que a idade mudou de nome, idade agora se chama juventude acumulada. Por  isso quero expressar, em público, a minha gratidão a todos os trabalhadores de bastidores, especialmente ao Mário José de Santana Filho  e a sua equipe da época pelo bom efeito que particularmente me fez essa reintegração. O primeiro convite a gente nunca esquece!...

Eu gostaria ainda de mencionar o nome de alguém que teve participação na vida da nossa turma, que nos influenciou positivamente e que nos fez bem.  Imaginemos uma pessoa competente,  de caráter íntegro, de personalidade forte, bom cidadão, bom chefe de família, bom milico, bom de vôo, bom de papo, com alto grau de discernimento, com acurado senso de justiça, leal no relacionamento com os amigos, comandante enérgico, mas dotado de um coração terno e  superlativo no dom de vibrar com vida. Assim eu vejo, e acho que não estou só, a imagem deixada pelo Berthier Figueiredo Prates, que comandou o Corpo de Alunos durante o  ano de 1961. Sabemos que o Berthier deixou a vida prematuramente, numa condição de mártir da nossa aviação. Acho que haveria justiça se hoje conferíssemos o título póstumo de Amigo da Turma de 60 ao nosso saudoso comandante. Aqui tomo a liberdade apenas de dizer: amigo Berthier, onde quer que você esteja, receba desta turma uma continência emocionada, levando a você a nossa admiração, o nosso respeito e a nossa gratidão, pelas lições que você legou para as nossa vidas.
E para finalizar eu quero me dirigir a cada um dos meus amigos, que aqui se trouxe para compor esta festa, nesta casa, neste dia, e dar um grito de parabéns. Parabéns, amigo, porque você acertou na sua decisão, vindo prestigiar este  alegre e vibrante encontro, comprovando que o seu nome está gravado no livro branco da Amizade. E está gravado para sempre.

 Muito obrigado.

Argenor Fernandes (12/03/2005)
 
Se você tem alguma foto interessante
me envie!
 

 

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